Rica e mágica pelo seu sincretismo religioso que faz o Senhor do Bonfim virar Oxalá e ser cultuado com a mesma fé por católicos e praticantes do candomblé (e suas variações de matriz africana), a Bahia foi o berço de Mãe Menininha do Gantóis, a mais famosa Yalorixá dessa terra, e também de uma santa: Santa Irmã Dulce dos Pobres.
Santa que será canonizada no dia 13 de outubro pelo Papa Francisco, em Roma, e que terá missa solene e comemorativa no dia 20 de outubro, na Arena Fonte Nova. Um evento que você, católico, não pode perder.
Essa mulher franzina, de corpo quase curvado pela rotina de confortar e amenizar a dor dos mais pobres caminhou durante décadas pelas ruas dessa centenária Salvador para coletar esmolas e distribuir o bem.
Subiu e desceu ladeiras implorando pela ajuda dos que tinham algo para dar aos mais necessitados, vivendo da caridade para seguir sua obra.
Se a sacola vinha cheia ao fim do dia, ela partilhava irmanamente com seus acolhidos, a maioria deles idosos e doentes. Se vinha quase vazia, ela complementava com um afago, um carinho, rogando sempre as bênçãos de Deus.
Sozinha ela construiu uma espécie de império. Um império do bem, da caridade. Começou num velho galpão, transformando um resto de galinheiro em primeiro abrigo para os que agonizavam na rua.
Estendeu a mão e com ela, se não curava a dor física, curava uma mais profunda, que brotava da alma: a do abandono, do desprezo, da desesperança.
Sua obra se espalhou por todo um quarteirão, virou um hospital, se expandiu para outras ações sociais e não fosse o simbolismo da igreja tornando-a beata, primeiro passo antes de canonizá-la Santa, ela já seria do mesmo jeito, na voz e no coração do povo baiano, Santa Irmã Dulce dos Pobres.
Seu santuário está erguido no Largo de Roma, na Cidade Baixa, aos pés da colina sagrada, que abriga o Senhor do Bonfim. Visitá-lo, para muitos, é purificar o coração e a alma, renovar a fé, buscar um milagre.
E não são poucos os creditados ao “Anjo bom da Bahia” como sempre foi chamada essa doce freira.
Para quem gosta de história, foi ali, naquela vesga de terra, na segunda metade do século passado, em 1959, que surgia as Obras Sociais de Irmã Dulce, a partir do Hospital Santo Antonio.
Sempre de portas abertas para acolher, confortar, tratar e dar suporte espiritual a quem mais necessita, além do atendimento médico gratuito, o espaço é também local de peregrinação religiosa. Para os devotos, a fé em Irmã Dulce cura mais que qualquer remédio.
Como se por milagre, nascido da caridade que fazia aos pobres, o conjunto da obra é hoje composto de 17 núcleos, 16 deles no Largo de Roma, na Cidade Baixa, e um núcleo, o OSID, que mantém o Centro Educacional Santo Antônio (CESA), uma escola em tempo integral, com foco na qualidade do ensino básico.
As Obras Sociais de Irmã Dulce (OSID) oferecem ainda serviços de saúde, assistência social, educação, ensino e pesquisa médica.
Com o lema de “amar e servir aos pobres e necessitados”, Irmã Dulce (1914-1992) virou o maior símbolo dessa terra e não foi à toa que passou a ser chamada de o Anjo Bom da Bahia.
Se seu corpo curvado já não se esgueira pelas vielas e becos dessa cidade, se já não sobe e desce ladeiras para remover os leprosos e tuberculosos que acolher em seus primeiros passos, pode ser reverenciado no Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres.
Também conhecido como a Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em funcionamento desde 2003, foi construído unicamente com as doações de fiéis.
É no Santuário que estão depositadas as relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos), em um espaço chamado Capela das Relíquias, onde fica o túmulo com os restos mortais da freira, cujo processo de canonização pelo Vaticano, está em fase final.